quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Povo X Povo: breve ponderação sobres interesses

O blog ficou um tempo razoável sem atualização. LH Pinton e eu estivemos um pouco ocupados em outros projetos, pararelos a este, mas desta vez olharemos com mais carinho para cá. Ao poucos a normalidade vai voltando. A ideia é que possamos acompanhar com mais serenidade tudo que envolve o futebol brasileiro a partir do início das oitavas-de-final da Libertadores da América.
De toda forma, aqui vai o primeiro texto desse novo ano.

Povo X Povo: breve ponderação sobres interesses

Como é do conhecimento de muitos, não sou jornalista esportivo, não tenho nenhuma influência no meio futebolístico, tampouco sou amigo de boleiros ou cartolas. Tudo o que sei sobre os acontecimentos que envolvem o futebol, sei por meio da imprensa e, também por isso, não tenho nenhuma pretensão de dar notícias em primeira mão ou furos de reportagem a quem é leitor deste blog. Contudo podemos aqui, e essa é a proposta, fazer pequenas análises com base naquilo que se torna público e naquilo que todos sabemos.
A gigantesca briga que se propuseram dois grandes do futebol brasileiro é, de certo modo, ridícula. Brigam por uma taça horrorosa, feia mesmo, para colocar em sua sala de troféus. Ora, desde 1987 sabemos que o verdadeiro campeão brasileiro daquele ano é o Flamengo. O Sport, que em certo momento teve seu título dividido com o Guarani de Campinas, jogou com times como Inter de Limeira, Treze e Joinville. O orgulho ferido do Leão, que agora tem que dividir o título do ano com o Flamengo, faz a diretoria do Sport optar por manobras judiciais para tentar reverter situações imbecis. O Sport tem é que passar a mão no toco e ficar feliz por ainda ter esse torneio de verão reconhecido como Campeonato Brasileiro. Concordo que ambos, Flamengo e Sport, sejam taxados como campeões daquele ano, afinal os times grandes sairam do campeonato organizado pela CBF porque quiseram, mas daí ao Sport querer ser campeão único são outros quinhentos.
Voltando ao assunto original, a Taça das Bolinhas é cobiçada. A taça foi dada ao São Paulo há alguns dias, antes da CBF reconhecer o Flamengo como campeão brasileiro de 87. O São Paulo, em mais uma atitude mal-caráter que mancha sua história, aceitou-a com muito bom gosto, mesmo tendo reconhecido o Flamengo como campeão daquele ano conturbado. Ora, vejam só: o Flamengo agora quer, como lhe é de direito, a taça. O leitor um pouco menos atento aos boletins esportivos deve estar pensando que o SPFC não viu problemas em devolver a taça, até para honrar a atitude deselegante de tê-la aceitado. Estes estão enganados. O glorioso time do Jardim Leonor se pronunciou oficialmente repudiando a devolução da taça com base em uma decisão judicial que nem a ele diz respeito. Imagino que os torcedores sãopaulinos mais sensatos estejam um pouco desgostosos com as atitudes que sua diretoria vem tomando. Para que ostentar uma taça que, além de grotescamente horrível, não lhe pertence? Vislumbremos: em uma visita guiada pela sala de troféus do São Paulo (e são muitos), Pedrinho resolve perguntar, depois de ter se espantado com tremenda falta de bom gosto, que taça era aquela cheia de bolinhas. O guia prontamente responde: "essa taça, querido, que de fato é de uma coisa de doer, era pra ter sido dada ao primeiro penta campeão brasileiro, mas ficou conosco porque não quisemos da-la ao Flamengo, pentacampeão bem antes da gente, nos embasando numa briga judicial mesquinha que eles tem com o Sport".
Bem, o Flamengo foi reconhecido como campeão brasileiro de 1987. Como PVC nos alertara, restava saber se esse presente seria retribuído à CBF, e é aqui que este texto pretendia chegar. Os dois times mais populares do Brasil tomarão nos próximos dias a decisão de deixar o Clube dos 13. O Corinthians diz não estar satisfeito com os percentuais recebidos sobre o valor de transmissão; o Flamengo aparentemente vai retribuir o favor que a CBF lhe fez, uma vez que o atual presidente do C13 (voto do Flamengo, inclusive) não era o candidato de Teixeira.
A situação do flamengo é autoexplicativa, pelo menos até agora. É o Kula do futebol. A sitaução do Corithians poderia ser entendida como algo bom se não soubéssemos quem é Ricardo Teixiera, Andrés Sanchez e Rede Globo. Como sabemos, a Globo transmite os jogos de futebol da primeira divisão em todos os níveis; ela detêm todos os direitos. O C13 é quem negocia a venda de todos os jogos e depois faz o rateio desse dinheiro entre os clubes. O Corinthians diz que, junto com o Flamengo, deveria receber valores bem maiores que os que recebe, devido a gigantesca torcida espalhada pelo país e aos aoltos índices de audiência. Vejam que lindo: o Corinthians sai do C13 porque se considera injustiçado e quer, ele mesmo, negociar seus direitos de transmissão, julgando que dessa forma conseguiria mais dinheiro. De fato isso é possível, mas o fato não é esse. O fato é que o Corinthians não vai sair por este motivo. Andrés Sanchez, bom amigo de RT, que concedeu ao fielzão a abertura da Copa do Mundo, depois da quebra de  monopólio da Rede Globo sobre os direitos de transmissão (essa quebra ainda prevê um bônus à globo, que mesmo não sabendo o valor que outra emissora ofertará, para ficar com os direitos de transmissão, poderá  pagar 10% a menos desse valor) resolve sair do C13. Com quem o Corinthians vai negociar os direitos de transmissão de seus jogos? Com o Canal do Boi? Com a TV Câmara? Não! Fala-se até de um C7, encabeçados por Corinthians e Flamengo. Racha-se o C13 não para realmente ganhar mais dinheiro pros clubes, para acabar com essa casa da mãe Joana que são os direitos de transmissão do futebol brasileiro, mas para mantê-lo. São os times do povo contra o povo, contra a quebra de monopólio e a favor da manutenção do que há de mais podre. São os times do povo trocando favores com os que fazem o futebol brasileiro perder um pouco do brilho.
O fato é que Corinthians e Flamengo tem força. Sua saída vai acarretar uma série de consequência que não podemos prever, porque politicagem não é uma ciência exata. De tudo, sabemos que santo ali ninguém é. É claro que suas saídas podem realmente trazer benefícios aos próprios, mas a questão é que estes não saem por este motivo. Eu só espero que o América mineiro ou Atlético goianiense, sem o poder de Corinthias e Flamengo para negociar direitos de tv junto ao C13, consigam dinheiro para pelo menos pagar as taxas de embarque dos aeroportos.

"Gol de Canela Convida"

Neste espaço vamos sempre colocar textos, comentários e artigos de grandes nomes ocultos do futebol. Escritos de pessoas que poderiam perfeitamente estar comentando e analisando jogos ao lado de Paulo Vinícius Coelho, Casagrande ou Noronha. A cada postagem, um excelente texto produzido por pessoas de gabarito.
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Inaugurando esse nosso novo espaço, convidei um grande amigo e excelente zagueirovolantelateral Vitor Camargo. Aproveitando a nuvem negra que paira sobre a Gávea, Vitor faz análises profundas sobre o esquema tático rubro-negro e comenta os recentes acontecimentos. Vale a pena conferir.
A seguir, o texto na íntegra e sem edições (política do blog "gol de canela")

Quando o Urubu de Baixo Caga no De Cima

Celso Roth não figura na minha lista de técnicos favoritos. Tampouco seria justo que figurasse na lista de bestas quadradas. Basta dizer que o treinador traz um número razoável de bons trabalhos maior que o número de trabalhos ruins. Mas nenhum excelente, apesar da recente conquista da Libertadores em quatro partidas pelo Internacional. Com tudo isso, quero dizer que não tenho o hábito de concordar com Celso Roth, mas às vezes acontece.

O treinador colorado disse, em entrevista coletiva, que há três times neste Campeonato Brasileiro que jogam na base do toque de bola competente e eficiente. E essas equipes são Corinthians, principalmente, Cruzeiro e o próprio Internacional. Disse também que todos os outros times jogam muito mais na base do desempenho físico do que na técnica. Roth não está errado na sua observação. Pelo contrário, a análise é perfeita. Mesmo o Fluminense, de campanha louvável e pretendente ao título, tem em Darío Conca (melhor jogador do campeonato) sua única cabeça pensante, responsável por dar norte às explosões musculares dos companheiros de equipe e às canelas de Washington.

Essa análise me fez atentar para uma curiosidade. Uma espécie de ilusão de ótica que, por falta de nome melhor, venho chamando de “efeito Flamengo”. O Rubro-Negro Carioca, atual campeão, faz campanha pífia no Brasileirão 2010. O time é o líder de passes errados no campeonato. O resultado disso é que qualquer equipe que enfrente o hexacampeão dá a impressão, graças ao contraste, de tocar a bola com a desenvoltura de melhor time do campeonato. É essa dinâmica, que chamo de “efeito Flamengo”, que faz com que o Rubro-Negro enfrente um Corinthians por rodada. O elenco do Fla tem deficiências, mas não é ruim. É de razoável para bom. Em boa fase, seria elenco para disputar vaga na Libertadores do ano que vem. Mas boa fase é algo que a gávea não vê desde a conquista do Brasileirão passado.

Como diz o apropriado ditado; quando a fase é ruim, urubu de baixo caga no de cima. E a fase do urubu rubro-negro é, definitivamente, ruim. A forma técnica dos jogadores está terrível. O ambiente é tenso, o que se reflete claramente nas atuações do time, com erros de passes fáceis, companheiros que trombam e matam as jogadas, excesso de passes pra trás por conta da falta de confiança em tentar a jogada mais agressiva...

Falta ao Flamengo o mojo que cantam os bluesmen. O mojo é aquele fluxo de confiança que faz o cara arriscar a jogada e a bola bater na trave e entrar, ao invés de sair. Que faz o rebote do goleiro adversário sobrar no pé do atacante, e não da zaga. Falta ao Flamengo gostar de jogar bola de novo, divertir-se com o jogo, em vez daquele peso da obrigação da vitória que não vem.

Só que o mojo não vem de graça. Precisa ser conquistado. E o comando técnico do Mengo tem trabalhado contra o patrimônio nesse aspecto. Silas tem escalado mal a equipe e tem substituído pior ainda. O time é capenga (joga muito mais pela direita que pelas outras faixas do campo). É travado na armação, com passes quadrados e sem profundidade. E é desprotegido na defesa. Ou seja, está tudo errado? Bom, está aí a posição do Fla na tabela para me dar a razão.

Zanata “La bruja” Arnos http://www.bruxaseleoeslp.blogspot.com/ propôs um esquema tático ao Flamengo, publicado por Mauro Cezar Pereira http://espnbrasil.terra.com.br/maurocezarpereira/post/148729_UMA+PROPOSTA+TATICA+PARA+O+FLA+SEM+PETKOVIC+E+SEM+RENATO+VOCE+APROVA em seu blog logo antes do Fla-Flu que terminou emum empate em 3 a 3. Mudando algumas peças, creio que o desenho proposto pelo pincharrata brasileiro é o melhor caminho. Inclusive para o clássico contra o forte Botafogo que se apresenta.

Com a fase ruim de Juan, Angelim e Jean, creio que o miolo de zaga deve ser formado por David Braz e pelo garoto Welinton, que já deu algumas mostras de bom futebol. E a lateral-esquerda deve ser ocupada por Vítor Saba, outro garoto. Nas divisões de base, Saba se destacou por ser bom no apoio, e na única oportunidade que teve no time principal, contra o Palmeiras, atuou bem.

A linha de três volantes permite a subida dos laterais com cobertura e peças suficientes para triangular as jogadas. A vaga de volantes pela esquerda, no esquema ocupada por Toró, pode ser também de Kleberson ou Renato numa espécie de terceiro homem de meio-campo, caso o bom futebol volte ao cotidiano dos dois. Diogo dá sinais de que pode funcionar melhor como ponta-de-lança (enganche) do que no ataque, numa paráfrase de Diego Forlán na seleção uruguaia na Copa do Mundo.

Diego Maurício e Deivid são os únicos atacantes do elenco a marcar gols depois de Vagner Love. Diego Maurício foi mesmo quem melhor correspondeu, mas vem sendo preterido pelo atrapalhado Silas.

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Por falar em Silas, o treinador não deve ter vida longa no comando do Fla. Não deixará saudades. Enquanto defende-se a sustentação dos técnicos no cargo para a formação de trabalhos longos e sólidos, o técnico bancado deve ser competente e se identificar com o clube que defende. O Flamengo apostou em dois técnicos jovens esse ano e nenhum dos dois correspondeu. Tanto Rogério Lourenço quanto Silas foram muito mal. Portanto as trocas são mais que justificadas, time nenhum haverá de bancar trabalhos ruins com base na crença de que o longo prazo é que importa. Sobretudo quando se freqüenta os arredores do rebaixamento.

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Zico deixou o Flamengo. O episódio é uma pena. Lamentável, sem dúvida. Mas o discurso do Galinho, tanto agora no momento da saída quanto na época em que assumiu a diretoria de futebol quatro meses atrás, era de que ele sabia que enfrentaria problemas, que sabia a briga que estava comprando, mas estava animado e disposto a enfrentar as dificuldades para fazer um bom trabalho no time do seu coração.

O Trabalho vinha sendo bom. Não era excelente, mas era correto. Muito com base na credibilidade do Galo na praça. Credibilidade, idoneidade. Características fundamentais para a aura de esperança que Zico proporcionou. Então acontece um desentendimento com o conselho fiscal do clube, provocado por uma denúncia falsa e canalha de um mafioso sanguessuga conhecido e tarimbado na gávea, defendendo interesses de outros tantos mafiosos que parasitam o Flamengo há tanto tempo e sempre se opuseram à nomeação de Zico. E o Galinho demite-se do cargo, e se diz frustrado, decepcionado, e diz que já não ama tanto esse Flamengo de hoje. Ora, isso não é postura de quem sabia mesmo onde estava se metendo e tinha disposição pra trabalhar corretamente. De que adianta toda a idoneidade de Zico se, na primeira porrada, o cara joga a toalha e desiste, ao invés de se defender? É verdade que o futebol é um universo corrupto, mal agradecido e mesquinho. Que a corja instalada no Flamengo é baixa e bate forte. Mas Zico era a última bala de prata, como chamou Lúcio de Castro. Era a figura agregadora, o mais próximo do consenso. Um messias. E o messias virou as costas, se disse cansado, jogou a toalha. Na primeira barreira mais alta.

A torcida do Fla deve muito ao Galo, mas o camisa dez também deve muito à torcida, que merecia melhor sorte com seus ídolos.

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O folclórico meia-atacante da seleção mexicana Cuauhtemóc Blanco vai fazer par romântico em uma novela mexicana com a Musa da Copa, a paraguaia Larissa Riquelme. Será que o SBT não está afim de transmitir “El Triunfo Del Amor” para o Brasil, não? Os craques fanfarrões estão se acabando no futebol esterilizado de hoje em dia, e seria legal dar uma força para essa empreitada de Blanco.

Vitor Camargo de Melo é Rubro-Negro e não tem paciência para reclamações de quem acha que o amor clubístico é incompatível com comentários fundamentados.